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Impeachment e produção de conteúdo: 6 lições dos deputados sobre o que NÃO fazer numa redação



Se você assistiu à votação do impeachment nesse penúltimo domingo, no qual nada menos do que 510 deputados se posicionaram favorável ou contrariamente ao andamento do processo de impedimento de Dilma Rousseff, há de concordar comigo que, à parte se tratar de um daqueles eventos “intermináveis” (chegava o feriado de 1º de Maio, mas a tal da votação não terminava nunca!), o fato é que dia 17 de abril de 2016 foi mesmo uma data histórica, não é mesmo?


E olha que “história” não faltou para os nossos ouvidos atentos, principalmente a contar pelas exaltadas narrativas dos parlamentares que, embora devessem se manifestar em até dez segundos, cuidaram de se estender por quase um minuto cada um (alguns mais, outros menos). Acontece que os nossos deputados estavam tão convencidos de suas defesas que, para justificá-las, sentiram-se na necessidade de compartilhar conosco uma “síntese” da sua própria vida! Para tanto, incluíram aí o município onde nasceram e/ou que representam, as suas frases de efeito preferidas, os seus conhecimentos em História e Geografia, a fé que professam, a mulher com quem se casaram, quantos filhos e netos tiveram e, claro, o nome de cada um destes, haja vista a importância dessas informações para a votação em questão e para a população brasileira (#SQN).


Sem nos determos, porém, no resultado da votação e em tantos outros curiosos apontamentos que a espetacularização dessa semana certamente nos renderia, a verdade é que, sem que se propusessem a isso, os deputados nos deram (gratuitamente!) um curso intensivo sobre produção de conteúdo, sobretudo no que diz respeito à criação de textos para o nosso público-alvo!


Duvida?!?


Bem, só para “início de conversa”, eles prestaram um serviço de inestimável valor aos redatores que empenham os seus melhores esforços em produzir diferentes gêneros textuais em nome de pessoas físicas e jurídicas.


“Como assim?!?”


Ora, simples! Consideremos o seguinte: os deputados que no referido domingo nos “surpreenderam” com as suas melhores condutas (fosse “empurrando o coleguinha”, fosse esbravejando, ora “mandando um alô para a família”, ora invocando a misericórdia divina) são, segundo se supõe, a personificação das nossas melhores escolhas nas urnas, correto? Ou, em termos mais resumidos, eles são simplesmente as figuras (e que figuras!) que escolhemos para nos representar. E o que é um redator, se não um especialista da palavra que um contratante escolhe para representá-lo por meio de textos que impactem positivamente os seus leitores e/ou clientes? Uma boa redação não seria, a priori, a representação escrita que deve “traduzir” uma ideia, um conceito, um negócio em todo o seu potencial?


Pois imagine se você, caro leitor que possui uma empresa e que tem interesse em conectar o seu público-alvo aos seus produtos/serviços por meio de artigos para o seu blogue (entre outros conteúdos possíveis), contasse com as (in)aptidões de um redator que representasse os objetivos do seu negócio do mesmo modo como os deputados representaram “o desejo da população brasileira” no dia 17 de abril!… Se você assistiu a toda a votação no Congresso, retome as suas próprias impressões e analise: o que os seus clientes (e potenciais clientes) avaliariam a seu respeito?…


Vamos supor (e apenas supor…) que você concorde comigo (ufa!) e diga a si mesmo: “É, Iara… De fato, se vou escolher quem represente as minhas ideias, seja na minha condição de cidadão ou na minha vida profissional, preciso mesmo ser um pouco mais ‘cuidadoso’”. Bem, é evidente que ficarei feliz por ter contribuído – ainda que minimamente – para o exercício dessa reflexão; de todo modo, posso lhe assegurar que as excelentes aulas que os deputados nos deram no que tange à produção textual não pararam por aí! E, posto que o aproveitamento foi significativo, eis que me atrevi a enumerar tais lições de 1 a 6. Mas atenção: que todos os créditos sejam dados aos nossos parlamentares, aos quais agradeço por “se doarem” tão gentilmente no exercício prático acerca do que não fazer numa boa redação! =)


Se você, como eu, também é redator/gerente de conteúdo, atenção às lições proporcionadas por esses especialistas! Já se você já contratou um redator ou uma agência para estar à frente da produção de conteúdo da sua empresa, nunca é demais se inteirar de quais são ou não aquelas famosas “melhores práticas”, não é mesmo? E se você é alguém que não atua profissionalmente como redator, mas se interessa pela redação do conteúdo do seu próprio negócio e está para se lançar nessa empreitada, atenção redobrada, combinado?


Vamos a elas:

#1. NÃO “GRITE” (E MUITO MENOS “BERRE”) COM O SEU PÚBLICO-ALVO!!! ] (Regrinha de ouro!)

SIIIIIIIIIIIIIIM!!! EM NOME DA SUA POLIDEZ, EM NOME DA ACEITAÇÃO DO USUÁRIO QUE VOCÊ CONVIDA PARA A SUA LEITURA (E QUE MUITO PROVAVELMENTE NÃO APRECIA SER MALTRATADO!), EM NOME DA BOA RELAÇÃO QUE VOCÊ PRETENDE MANTER COM ELE E, PRINCIPALMENTE, EM NOME DE TODOS OS CONTEÚDOS QUE VOCÊ ESPERA QUE ELE CURTA, QUE ELE CONSUMA, QUE ELE VIRALIZE E QUE TAMBÉM SE TRANSFORME EM MÍDIA ESPONTÂNEA PARA A SUA EMPRESA OU MARCA, VOTE POR UM TOM “AMIGÁVEL”!!!


Agora falando sério (não que antes eu não estivesse): via de regra, opte por um “tom amigável”, com o qual o seu público mais se identifique. Isto porque, mesmo havendo diferenças bastante peculiares entre a fala e a escrita, ambas contemplam o aspecto relativo a um “tom” – aspecto este que os leitores também depreendem durante uma leitura. Não à toa, quando lemos uma mensagem toda escrita (ou parcialmente escrita) com letras maiúsculas (ou, como costumo dizer, em “letras garrafais”), somos levados a crer que o nosso interlocutor está gritando conosco, ou que está chamando a nossa atenção, ou que está sendo “grosseiro” ou nos dando uma “palavra de ordem” (lembrando que, para que sejam bem-vindas, as “palavras de ordem” também precisam estar dentro de um contexto…), entre outras possibilidades.


Na maioria das vezes, a não ser que estejamos nos referindo a um panfleto ou a qualquer outro tipo de anúncio marcadamente publicitário, o excesso de “letras garrafais” não causa uma impressão positiva… (#ficaadica)


#2. Não dê “palavras de ordem”: seja gentil!


Aproveitando o item anterior, destaquei aqui esta segunda lição no intuito de salientar que há uma diferença GRITANTE (reparou no efeito do “grito”?) entre dar uma “palavra de ordem” (a exemplo dos deputados se esgoelando ao microfone na tarde do domingo retrasado, exigindo o cumprimento daquilo que ora reivindicavam em nome da democracia, ora em nome do golpe de 64, ora pela defesa da família, ora pelo direito dos índios, ora pelo futuro dos próprios filhos, etc.) e dar uma “palavra de incentivo” (o que, aqui, não tem nada a ver com autoajuda, ok?).


Veja: se pretende incitar o seu público-alvo a alguma ação, mobilize-o dentro de um contexto. Como? Assim, tal como fiz exatamente agora, ao solicitar que, ao incitar o público a alguma ação, você o mobilize dentro de um contexto.


Adeque os verbos no imperativo ao gênero textual/discursivo. Você está discutindo a solução de um problema? Nada mais natural do que orientar o seu leitor/cliente/potencial cliente, recomendando que ele “pense”, que “pondere”, que “estude”, que “faça”… Contudo, perceba (notou o verbo no imperativo?) que a própria contextualização nos auxilia no sentido de que essas “palavras de ordem” não assumam um efeito de agressividade. Afinal, se não gostávamos nem mesmo dos nossos amorosos e dedicados pais “mandando” na nossa vida (e olha que a esmagadora maioria de nós precisava disso!), que dirá de estranhos que nada sabem a nosso respeito, concorda?


#3 Não fuja do tema – pelamordedeus!

Sabe que, nesse penúltimo domingo, pensei: “será que aquele deputado que (depois de já ter votado) voltou ao microfone para mandar lembranças ao filho não seria um adulto frustrado, daqueles que não superaram o fato de nunca terem comparecido ao Xou da Xuxa, na época em que a apresentadora perguntava: ‘E o seu beijo vai pra quem?’…”?



Sim, é possível. Mas o que isso tem a ver com as lições que os deputados nos deram sobre produção de conteúdo e, mais particularmente, produção de textos? Hum… Isto, precisamente, nada. Foi apenas uma divagação, como você há de ter notado. No entanto, uma divagação proposital, para alertá-lo quanto à importância de que, na sua redação, você não divague dessa maneira. Ou, ao menos, para que divague o menos possível.


Pergunte-se: qual o seu tema e o objetivo do seu texto? para quem você está escrevendo esse texto? o que o seu público gostaria de saber a respeito desse tema? como você pode, por exemplo, contemplar todas essas informações num único artigo para o seu blogue, sem a pretensão de esgotar todas as discussões em torno do assunto?


De certo que, se você se focar nessas questões, já terá mais do que o suficiente para escrever!


Além disso, ainda que o seu texto seja, assumidamente, uma completa divagação, a própria divagação segue uma linha de raciocínio que exige um mínimo de coerência. No exemplo que comecei ilustrando nesse tópico, havia, ao menos, uma associação entre a minha divagação e o objetivo deste artigo: ambos se referem à atuação dos deputados durante a votação do impeachment nesse célebre domingo. Mas essa articulação não foi exatamente o que verificamos quando tantos deputados resolveram estabelecer (a qualquer custo!) uma associação (forçada!) entre os seus votos e aquilo e/ou aqueles pelos quais votavam. Por exemplo: qual a relação entre se votar a favor do processo de impedimento da presidente e a “paz em Jerusalém”?… [Hã?!?]


#4 A menos que o tema da sua redação seja religioso (ou que o seu negócio seja uma igreja), não fique invocando o nome de Deus!


Pois é. Sabe o “pelamordedeus” que usei na chamada do tópico anterior? Foi apenas para criar um efeito de humor inocente. E, a não ser que você queira fazer o mesmo (ou a não ser que você esteja escrevendo sobre um tema religioso), procure “não misturar as frequências”… Se você acompanhou na internet a repercussão da votação, deve ter reparado que as solicitações de intervenção celestial, os votos justificados em nome da fé e o pedido explícito de misericórdia divina “memetizaram”, tomados, por si sós, como piadas prontas.


O Estado é laico, mas o Brasil é um país religioso, e “usar o nome de Deus” e/ou de outras santidades para legitimar os próprios interesses não é, a priori, uma prática muito bem vista...


5# Se o seu contratante ou o seu público-alvo espera que você desenvolva um tema o mais rapidamente possível, não fique criando expectativas à toa!

Ora, vejamos: de quanto tempo os deputados dispunham para manifestar o seu voto? De 10 segundos, no máximo. Só que, em média, cada um falou cerca de 60 segundos. E o resultado você já sabe: nada que efetivamente acrescentasse – mas tudo que, ao final, contribuiu para que a votação se arrastasse por horas e horas!


"E o que isso tem a ver com a produção de textos?"


Tudo.


"Por quê?"


Porque, tendo em vista a regra a que os deputados deveriam obedecer, os 50 segundos a mais de que cada um se valeu culminaram num “excesso” que, como todo bom excesso, foi desnecessário. À exceção de conteúdos para memes, para matérias jornalísticas e para este despretensioso artigo, o que realmente se aproveitou da esmagadora maioria daquelas centenas de explicações acaloradas? E o que você acrescenta ao seu público-alvo quando ele está interessado numa resposta objetiva sobre um tema específico e, sem se dar conta disso, você o sobrecarrega com os seus próprios "achismos"?


“Ah, Iara, mas você não está me sobrecarregando com os seus próprios achismos?”


Não exatamente. E explico a diferença, a começar pelo título do meu artigo: já no título, subentende-se que vou tratar de um assunto subjetivo, resultante da minha própria articulação. Além disso, não escrevo para um público interessado (ou, ao menos, não necessariamente interessado) em respostas prontas, e sim no exercício da própria reflexão e do bom-senso. Os meus leitores (leitores dos artigos assinados pela Iara) sabem que, enquanto escrevo, eu mesma estou raciocinando, compartilhando com eles as melhores considerações que me ocorrem. Quando escrevo em meu próprio nome, tal como agora, desfruto essa liberdade.

#6 Não queira convencer o seu público-alvo de que tudo o que você está fazendo é apenas (e tão somente) por ele!


Sim: faça essa gentileza ao seu público-alvo e a si mesmo! Ou você acredita que pode subestimar a perspicácia dos internautas sem sofrer nenhum prejuízo, tal como os deputados se arriscaram a fazer durante todo aquele "espetáculo"?


Avaliemos conjuntamente: na sua opinião, em que momento os deputados inspiraram mais “honestidade”: quando estavam votando pelas suas esposas, maridos, filhos, pelo aniversário da neta, etc., ou quando justificavam os seus votos em nome dos corretores de seguro, dos fundamentos do cristianismo, do aniversário do seu município, da república, da democracia, do Brasil?…


Aprofundemo-nos nessa avaliação: à parte a família consanguínea e a nação brasileira, os parlamentares não estavam, na verdade, privilegiando os seus próprios interesses, conforme as negociações a que já tinham dado andamento?… Você realmente acreditaria se, na próxima campanha eleitoral, para disputar novamente o seu voto, o deputado no qual você votou na última eleição lhe dissesse que tudo o que fez no Congresso foi visando a representar os seus interesses de cidadão de bem?…


Tudo bem que você não seja político e que, muito possivelmente, esteja imbuído das melhores intenções ao redigir um artigo sobre as vantagens do seu negócio ou dos negócios do seu contratante. Ou, ainda, tudo bem que esteja mesmo imbuído das melhores intenções ao escrever um artigo sobre saúde, mercado de trabalho, cultura, marketing de conteúdo, etc., etc., etc. Acredito em você, e essa boa vontade que nos move em compartilhar um conhecimento relevante por meio de um texto de qualidade é, sem dúvida, um diferencial a ser cada vez mais incentivado. Mas não queira convencer o seu público-alvo de que a sua iniciativa se justifica única e exclusivamente pela sua "generosidade acentuada". Esta pode ser uma das formas mais rápidas de despertar a desconfiança (e a resistência) daqueles de quem você tanto gostaria de se aproximar!


Sejamos transparentes: se você tem um negócio próprio e começou a produzir conteúdos acerca dele, o seu interesse não se resume, gratuita e exclusivamente, à garantia de bem-estar dos seus clientes e daqueles que podem vir a sê-lo, correto?


Na prática, é mediante o consumo do seu conteúdo que o usuário se interessará em consumir o seu produto ou serviço, pelo qual acabará por remunerá-lo financeiramente – o que é excelente.


Na prática, quando você atua como redator, é por meio da engenhosidade dos seus textos que o público-alvo do seu contratante o descobrirá e se interessará por um determinado produto ou serviço, de tal modo que o seu contratante se sentirá satisfeito e continuará a remunerá-lo pela sua prestação de serviço – o que também é excelente.


Logo, a produção de um bom conteúdo implica não apenas a oferta de um bom conteúdo para o leitor-futuro-consumidor, mas também a sua garantia de renda (ou, por exemplo, a sua garantia de reconhecimento como autoridade sobre um determinado assunto). E todo leitor sabe disso: ele sabe que, a menos que você seja um espírito totalmente desprendido dos bens terrenos e que se encontra encarnado neste mundo tão somente para compartilhar a própria luz interior, dificilmente se lançará a fazer alguma coisa que não contemple também os seus próprios interesses!


Portanto, se você não gostaria de ser chamado de “hipócrita” tal como o foram os nobres deputados que tornaram ainda mais “histórico” o dia 17 de abril de 2016, atente-se a esta última lição: seja qual for o tema e o estilo da sua redação, não abra espaço para a desonestidade, para a propagação de informações advindas de fontes de pouca credibilidade e/ou até mesmo para a manipulação das informações, subestimando a perspicácia do seu público-alvo. No lugar de tentar iludi-lo com o pretexto de que ele é o único beneficiado pela sua camaradagem, deixe-o saber que vocês podem se auxiliar reciprocamente, caso haja essa necessidade.


Se, mais do que simplesmente conquistar, você aspira a um leitorado/público-alvo fiel, invista na construção de uma relação de confiança e de troca. No final, os resultados serão nada menos que surpreendentes!


*Artigo originalmente escrito para o já extinto LivreMente e posteriormente publicado pela LinkBrand Marketing Digital, que o mantém disponível no link http://www.linkbrand.com.br/impeachment-e-producao-de-conteudo-6-licoes-dos-deputados-sobre-o-que-nao-fazer-numa-redacao/ e à qual agradecemos a publicação.

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