A sua escrita expressa aquilo que você realmente gostaria de ter dito?
Uma reflexão sobre a produção de textos na web e o papel do bom redator
Há algum tempo, escrevi um artigo no meu blogue ao qual dei o título de “Mas o que um redator faz?”, e me surpreendi um tantão com a quantidade de visualizações que recebi e até hoje recebo. Naquela época, eu não tinha ciência de que entender aquilo que um redator faz era (é) algo de tanto interesse!
Mais de quatro anos depois desse registro e com um percentual maior de aperfeiçoamento e experiência nessa área, a minha definição a respeito daquilo que caracteriza um redator seria um tanto menos “simplista” e não se limitaria à descrição das tarefas que eu exercia naquele momento. Compreender de fato aquilo que um redator faz tornou-se algo tão mais complexo que somente mencioná-lo como “alguém que escreve” seria insuficiente para distingui-lo de quem não exerce essa mesma função. Afinal, à parte as discussões mais aprofundadas sobre a Educação no País, todo mundo sai da escola (ou, ao menos, deveria sair) sabendo ler e escrever, certo? Então, por que seria necessário contratar um redator? O que o tornaria diferente de quem não se profissionalizou nessa área?
Após anos de muito trabalho e observação, arrisco-me a apontar que a diferença está no “a mais” daquilo que compõe os atributos de um bom redator, sobre os quais falarei um pouco mais adiante. Entretanto, relevando os pré-requisitos para essa atividade, impulsionadas pelo sofisma de que “escrever é algo que todo mundo faz”, avessas à má qualidade de inúmeros textos lançados na internet e preocupadas com os conteúdos em seus sites e/ou em outros meios on-line, muitas pessoas acabam optando por serem as suas próprias autoras. Sua alegação é que não precisam pagar por uma boa redação: elas mesmas “dão conta” de escrever e, “de quebra”, poderão abordar à sua maneira determinados aspectos mais específicos do seu tipo de negócio e dos temas a ele associados.
Sem dúvida, esses autores podem obter muito êxito, tornando-se, inclusive, referência num segmento do universo digital. Apesar de nem todos revelarem conteúdos originais, coesos e “amigáveis” ortográfica e gramaticalmente falando, muita gente consegue esse feito – o que é ótimo, em diversos quesitos. Porém, esse tipo de iniciativa não produz excelentes resultados em todos os casos, pois, a depender do assunto, do público que se quer alcançar e principalmente do como se pretende alcançá-lo, a aplicação dos conhecimentos básicos da escrita tenderá a não ser o bastante. Isto porque a elaboração de um significativo número de boas redações deve contemplar particularidades que, por exemplo, vão além das etapas básicas de “introdução, desenvolvimento e conclusão” que nos foram apresentadas repetidas vezes nas aulas de redação escolares, e é esse “quê” a mais que compete ao bom redator.
Há pessoas que escrevem de uma forma confusa, muito embora manifestem uma ideia clara daquilo que desejariam comunicar. Elas sabem o que gostariam de expressar, mas a verdade é que, por escrito, acabam não conseguindo reproduzir o mais fielmente possível aquilo que tinham em mente. Tanto é assim que, conquanto existam outras "variáveis a esse respeito", chega a ser comum ouvir um “Não foi isso o que eu quis dizer…” ou “Eu me expressei mal…”, comprovando, no que tange ao autor do texto, o quanto o efetivamente dito (por escrito) não necessariamente correspondeu à intenção.
Infelizmente, quando estamos falando da veiculação de textos na web, o “Não foi isso o que eu quis dizer…” é uma justificativa pouquíssimo eficiente. Diferentemente de um bate-papo espontâneo, no qual os falantes dialogam de forma improvisada, espera-se que o conteúdo postado num site tenha passado por certos critérios, sobretudo de revisão. E, até que o comentário de algum leitor aponte aquilo que foi escrito de modo pouco esclarecedor ou até mesmo “comprometedor”, muitos outros leitores já terão sido alcançados… A “primeira impressão”, que deveria despertar adesões, poderá ter causado rejeições até mesmo definitivas! No mais, a tentativa de retratação depois da publicação poderá provocar no público uma percepção de “amadorismo” da pessoa/marca/empresa, gerando dúvidas quanto à sua credibilidade.
Muitas vezes, o mais “curioso” é que o “defeito” que o próprio leitor identifica e que promove a sua não adesão ao conteúdo pode ter sido causado por problemas de pontuação (excesso de vírgulas, falta delas, vírgulas no lugar errado, pontos finais onde deveria haver continuidade da frase, etc.), de acentuação, de ortografia, ou por um problema de concordância, pelo uso equivocado de uma palavra com muitos significados, pela confusão entre maiúsculas e minúsculas… Noutras vezes, o “defeito” vem da própria construção do pensamento, que pode não se completar, ou pode incorporar informações que fogem ao objetivo do texto, ou pode ser “desordenado” para os padrões que já conhecemos… E, nos piores casos, os dois “defeitos” se juntam num único “balaio”. Só que, para um bom redator, esses “defeitos” não passam despercebidamente. Na verdade, eles sequer ganham vida no papel ou na tela. Quando o ganham, são facilmente combatidos numa primeira revisão.
Para quem não é um profissional de redação e tem um site pessoal e/ou de empresa, blogue, páginas em redes sociais, etc., a sugestão é imaginar-se no lugar dos leitores e/ou clientes que deseja conquistar/preservar. Se escrever bem não estiver entre as nossas especialidades, vale considerar até mesmo se já tivemos algum desentendimento desencadeado a partir de uma mensagem enviada por e-mail, na qual quisemos dizer aquilo que o destinatário alegou que não dissemos, ou que não dissemos da forma como estimávamos que ele entendesse.
Isso não é algo distante da nossa realidade, é?
Em relação aos desentendimentos causados por essas “comunicações truncadas”, há quem diga que a “culpa” pela incompreensão do registro é sempre do leitor, que seria alguém “limitado”. Não à toa, eu mesma já recebi e-mails em que, abaixo da assinatura do remetente, lê-se: “Eu sou responsável pelo que escrevo, não pelo que você entende”. Ora, uma transferência de responsabilidade bastante confortável por parte de quem escreve uma mensagem que por si só pode estar “pouco esclarecedora”, não?
Claro que há muitas ocorrências nas quais, por mais que a redação pareça perfeitamente inteligível, ainda se notam certos “equívocos” na sua interpretação – que não são exatamente “equívocos”… Isto se explica pelo fato de que cada leitor é único, formado por um universo de experiências e de “leitura de mundo” igualmente único, bem como pelo fato de que existem muitos olhares possíveis sobre um mesmo texto. Não há um sentido dado, mas um sentido apreendido, que pode ser diferente para cada um. Contudo, ao bom redator cabe a tarefa de diminuir as distâncias entre aquilo que se quis dizer e aquilo que foi escrito, garantindo o máximo possível que essa intenção seja assim captada pelo leitor. Para isso, o profissional da escrita terá de assimilar o assunto (o que pode incluir entrevista com o contratante e muitas pesquisas em fontes confiáveis), estruturar o raciocínio, adequá-lo na linguagem peculiar à compreensão do público, dominar os recursos da língua para ser capaz de empreender as manobras discursivas necessárias, fazer as escolhas lexicais mais pertinentes à sua proposta e minimizar as suas possíveis multiplicidades de entendimento, tanto quanto esteja ao seu alcance.
Por tudo isso, é preciso valorizar o quanto um texto bem escrito se traduz numa forma de apresentação da pessoa/marca/empresa, numa espécie de “cartão de visita” pelo qual o leitor é convidado a conhecer cada vez mais sobre aquilo que ela faz e a se reconhecer na maneira como aquilo lhe está sendo ofertado. Forma e conteúdo devem estar perfeitamente alinhados, coerentes com a proposta de quem quer se destacar, cativar, impressionar positivamente. Afinal, se as imagens exercem influência nessa identificação entre leitor/cliente/consumidor e pessoa/marca/empresa/produtos/serviços, às palavras compete o desafio de convencê-lo e mobilizá-lo para a sua definitiva tomada de ação, independentemente de qual ela seja.
*Artigo originalmente escrito para a Link Brand Marketing Digital, que o mantém disponível no link http://www.linkbrand.com.br/a-sua-escrita-expressa-aquilo-que-voce-realmente-gostaria-de-ter-dito e à qual agradecemos a publicação.