top of page

Publicações

Poemas Premiados

2008

4º CONCURSO NACIONAL DE POESIA PRÊMIO "DINA DI MARTINI"

ASSOCIAÇÃO DOS LITERATOS DE UBIRATÃ (ALIUBI)

Poema: "Avesso" (menção honrosa)

 

Avesso

 

Amor distante, tão perto

De mim, ausência, presente

Alvoroço, multidão, deserto

Inconsciência completa, ciente

 

Amor tão perto, distante

Loucura de paz, a guerra

Permanece no mundo, mutante;

Que sofre, que ganha, que sua, que erra

 

Amor tão fora, no outro

Castelo de areia nas ondas do mar

Sanidade do ser que torna a ser louco

Certeiro destino de nunca chegar

 

Amor tão dentro, calcado

Nas bases da alma, toda humana

Que geme e sussurra, todo calado

A dor que é sua, solidão de quem ama

 

Infinito finito na eternidade

Amor que expande e não sai do lugar

Ânsia da espera na serenidade;

Crescer, produzir, recolher, retornar

 

Lembranças que o Tempo não deixa esquecer

Tartarugas correndo num grande jardim

Amor suicida que quer sobreviver

Lagarta rasteja entre o não e o sim

 

Amor que é paixão e não sabe explicar

A ilógica lógica de tudo que existe

Que nunca distingue o ser do estar

Impossível provável em todo limite

 

Amor que é conto, de fada é magia

Encanto que dura por mais de uma hora

Sorriso no pranto da triste alegria

Encontro de dentro do lado de fora

 

Amor que é sono e precisa dormir

Pra amanhã dar bom dia, quando só(l) acordar

Sofisma da mente e de cada sentir

Amor, sempre amor. Amar é amar.

 

Iara Mola

28/12/2007

2008

4° FESTIVAL DE CONTOS, POESIAS E CRÔNICAS DE SANTA LÚCIA

MODALIDADE CONTOS CATEGORIA ADULTO

Crônica: O moço do metrô (2º lugar)

 

O Moço do Metrô

 

Aprontara-me para um novo dia de trabalho. Não apenas mais um. Minha disposição agigantara-se naqueles últimos dias; o final de semana fora o do "Dia dos Namorados" e, ainda sob efeito da atmosfera romântica em que me achava envolvida, saí.

Durante o trajeto rumo à Avenida Paulista, pensei no meu final de semana. Passara quase todo o sábado e o domingo rasgando papéis. Rasgando o meu passado, mesmo. Não; não vou jogar o meu passado no lixo: juntei os papéis para uma pessoa que os recicla, e que me recicla também.

Estou reciclando o meu passado.

Em um dos meus "achados", encontrei as anotações de uma palestra a que eu assistira em agosto de dois mil e dois. O tema? "Relacionamentos Humanos". O enfoque? "Tipos de Personalidade". Abordava os diferentes tipos de pessoas e, de acordo com as suas características, elas eram divididas em classe de quatro diferentes grupos de personalidades: o falante, o pensador, o decidido e o observador.

Eu estava mais para a lista dos que são observadores. Contudo, chamou minha atenção a leitura acerca dos falantes. Segundo o convidado a palestrar, o falante se reconhece pela frase "Vamos nos divertir!". Todos se aproximam e riem com ele. Alguns dos tópicos que o descrevem nessa sua transparência são: "toque de inocência", "raio de esperança", "espirituoso", "criativo" e "entusiasmado." "Está cheio de Deus em si".

Alguns minutos fiquei a pensar sobre isso. Quais eram as pessoas que eu conhecia que tinham esse perfil? Seria fácil identificar outras na rua? O que era "estar cheio de Deus em si"?

No Belém, peguei o metrô sentido Barra Funda, para fazer a devida baldeação na estação Sé. Exatamente o metrô no qual eu teria a feliz oportunidade de entender o que eu lera enquanto estava a caminho dali, mas que não fizera ainda muito sentido na prática.

Quando entrei no metrô da Sé no sentido quem vai para o metrô Ana Rosa, deparei-me com um rapaz curioso. Cantava, alegre, ao som dos acordes dedilhados no violão simples.

Achei-o uma figura bela e, antes de deter-me mais na apreciação da sua pessoa, intrigou-me uma outra manifestação – ou talvez, a ausência dela.
Olhei as pessoas à minha volta: nenhuma delas o olhava. A única expressão era a da indiferença, como se tanto fizesse a diferença que aquele moço fazia naquele vagão.

Fechei meus olhos para não ver os olhos abertos daqueles que não o enxergavam e, ao fechar os olhos, agucei a audição e pude sentir bem mais. Não só a música, mas a vibração de paz que emanava daquele ser.

Abri os meus olhos quando, ao terminar o refrão de que "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã", aquele artista agradeceu aos passageiros, que continuavam na mais absoluta indiferença, e prosseguiu, anunciando a próxima canção que entoaria, justificando-se, dizendo que não queria incomodar.

Por que aquele jovem fazia aquilo? Por que, se não tinha retorno? Era um modo de ganhar a vida? Na última canção, passaria o chapéu – que não tinha na cabeça?

Minha sensação era a de que, de tão excessiva a indiferença, havia em redor um ar de incômodo. Cantar que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã" atrapalhava, por exemplo, a leitura daqueles que consumiam a notícia sanguinolenta estampada na primeira página do jornal.

Por que, então, o rapaz insistia na arte?

Fitei-o de forma mais demorada, e, encantada com o amor que pulsava nele, sorri-lhe com meu olhar.

Não trocamos qualquer palavra, mas acho que ele sentiu a minha receptividade. Tanto, que senti a próxima música cantada como um agradecimento ao meu olhar agradecido. E o próprio fato de ele ter anunciado que era uma canção do Cazuza levou-me a cerrar as pálpebras mais uma vez, a fim de sentir mais. (Sentir mais amor em mim.)

E só quando senti meu amor transbordando-me, coloquei-me em condições de entender. Foi quando olhei para o moço e ele despediu-se de nós, radiante, feliz, desejando que "ficássemos com Deus", enquanto ele cantaria em outros vagões.

Foi aí que entendi na prática aquilo que eu relia naquela manhã um pouco antes desse episódio, mas que, até então, eu não entendera integralmente. O que movia aquele rapaz tinha por nome ENTUSIASMO. Quando ele saiu daquele vagão, pensei: "Ele está cheio de Deus em si".

Deu, doou, desprendeu-se de si, sem pedir nada em troca.

Absolutamente nada.

 

Iara Mola

2008

4° FESTIVAL DE CONTOS, POESIAS E CRÔNICAS DE SANTA LÚCIA

MODALIDADE POESIAS CATEGORIA ADULTO

Poema: Além (4º lugar)

 

Além

 

O escritor está no quarto

Caneta em punho no momento

Inspiração de quem transpira;

Ele transcende o sentimento.

 

A emoção desperta o corpo;

Surpresa à mente, que supera.

Nova idéia, eis que surge

quando menos se espera

 

Personagens se enfileiram

aguardando a chamada:

todos querem do escritor

a sua história bem contada

 

Pra rapidez do raciocínio

a mão humana é vagarosa,

tanto faz caneta ou micro,

se o texto é verso ou prosa.

 

O escritor conectado

quer da sua obra, arte

Criação em desalinho;

mesmo todo, está em parte.

 

Qualquer dia da semana,

e até em dia-feriado,

a cabeça não sossega

com o livro inacabado

 

O mundo fora dá notícias:

tevê, praia, animação

E, no quarto do escritor,

só silêncio e solidão.

 

À família até parece

que isso seja uma opção,

mas disso ele necessita,

sob pena de prisão.

 

Se o escritor se der ao luxo

de ignorar o que lateja,

seu talento se rebela,

por melhor que ele seja

 

E longos dias ele passa

como a figueira seca;

reza, pede inspiração,

sem que nada lhe aconteça.

 

O que é do escritor

é resposta que inexiste

Tudo e todos somam juntos

para a alma sem limites.

 

Quando vêm suas personas

lhe batendo à superfície

ele desnuda de si mesmo

evoluções e imundícies

 

Àqueles mais desesperados,

que são muitos personagens,

que um por vez se pronuncie

pra registro das mensagens!

 

... É um mistério como pode

no escritor o sentimento

de ser tantos várias vezes

e tão só ao mesmo tempo...

   

...Madrugada se anuncia

Amanhã tem mais labuta

Ao escritor cabe a tarefa:

  lapidar palavra-bruta;

 

Transbordar a realidade

na branca página do dia,

e à coisa simples, boba,

fazer arte, dar a vida!

 

Das condições que lhe são postas,

se precisar, paga dobrado

pra partilhar com outros olhos

o seu trabalho registrado.

 

Da mente e mãos do escritor

seu melhor sonho se irmaniza,

e no universo literário

o mundo todo se eterniza.

 

Iara Mola

21/5/2008

2007

VI CONCURSO LITERÁRIO "A PALAVRA EM PRISMA" – VERSO EM CANTO

SECRETARIA DE CULTURA DE GUARULHOS

Poema: "Nossas Vidas Secas" (classificado entre os dez vencedores)

 

Nossas Vidas Secas*

 

Nunca vi tamanha genti

sofrê tanto pra vivê.

Purisso vim do meu sertão

e cheguei no Tietê.

Troxe as mala que é pequena

co’as lembrança bem miúda,

pois das rôpa que eu visto

eu só tenho duas muda.

 

No meu peito eu sempre sinto

a sudade dos meus fio...

Lembro deles mirradinho,

me ajudando com os mio.

Muito tempo nóis rezô

pro sertão se alagá;

mais a música é mentira:

o sértão não vira mar.

 

Vim tentá a sórte grande

aqui na terra da garoa.

Inda tô disimpregado

e, como eu, muitas péssoa.

Minha esposa me ispéra

co’a proméssa de voltá.

Morro um pôco todo dia:

inda longe isso tá.

 

Sum Paulo é muito bonito,

mais tamém é ilusão.

A gente sófre préconceito

quando sai lá do sértão.

Sô semi-alfabetizado,

mais nessa terra falo grego;

minha língua cum sutaque

não se ôve com respeito.

 

Como tenho me umiado

pra mantê meu brio de home!...

Minha boca fica seca,

e meu estombo dói de fome...

Nem féjão tenho no almoço

como tinha no Nordeste,

e num tenho um centavo

pra voltá pru meu agreste...

 

Hoje tenho pôca fé;

o meu mundo se acabô.

Essa gente da cidade

já num sabe o que é amô.

Pra esposa que me ispera,

eu queria lhe dizê:

me arrependo todo dia

de tá longe de você.

 

Me perdoe pelo sonho

que num vô realizá.

Piorô a nossa vida;

as veiz penso em me matá.

Prus meus fio mirradinho,

o pai dêxa uma lição:

Sum Paulo é muito bonito,

mais mió é o sertão.

 

Emanuel

(Iara Mola)

25/2/2004

*"Nossas Vidas Secas" foi escrito em fevereiro de 2004, durante os festejos de carnaval. "Retirada" no meu próprio quarto, devorando uma novela sociolinguística escrita por Marcos Bagno ("A Língua de Eulália"), encontrava-me surpresa com o novo conhecimento que me estava sendo apresentado, além de achar-me contagiada pela alegria de, enfim, haver recém-iniciado os meus estudos acadêmicos. Ingressara no curso de Letras há poucos dias, e  empolgavam-me as descobertas acerca de um universo de possibilidades linguísticas de cuja existência eu jamais suspeitara. Em 2009, após ter sido selecionado entre os vencedores do Concurso de Poesia "A Palavra em Prisma" realizado em 2007,  o poema viria a ser musicado pelo meu irmão André Mola, que ainda o incorporaria ao seu belíssimo CD intitulado “Meu Céu”, contando com a participação especial do Chambinho do Acordeon na ocasião do seu lançamento no Teatro Adamastor, em Guarulhos.

2007

XII CONCURSO NACIONAL DE POESIA FRANCISCO IGREJA

ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL DE POETAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (APPERJ)

Poema: "A Disputa entre o Tudo e o Nada"

A Disputa entre o Tudo e o Nada

 

Deste lado tenho Tudo,

Deste outro vejo Nada.

Tudo está em todo mundo,

Nada faz pra não ser nada.

 

Tudo pulsa no planeta,

Nada anda na calçada.

Nada faz pra ser de tudo,

Tudo faz pra não ser nada.

 

Nada está sempre perdido

Tudo tem a direção.

Nada é o impossível,

Tudo encontra a solução.

 

Tudo muda o tempo todo

e nada há que o desfaça.

Tudo diz que Nada fica

porque tudo sempre passa...

 

E o Nada já cansado

com o “Tudo meritório”,

Diz que Nada é eterno:

“Tudo é sempre transitório.”

 

E assim será por muito tempo

no planeta o nosso arquivo:

Nada vem a Deus dará;

Tudo tem o seu motivo.

 

José Renato

(Iara)

28/09/2003

2003

IV CONCURSO REGIONAL DE LITERATURA – PRÊMIO PAULO EIRÓ

CASA DE CULTURA DE SANTO AMARO – SUBPREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO

Poema: "Estranhos Poderes" (3º lugar)

 

Estranhos Poderes

 

Como pode o envolvimento

do humano com o divino

a que hoje me inclino

diante disto que é belo?...

 

Como pode esse mistério

do que é brando e tão tenso

quando penso o que não penso

e me dou sem me entregar?

 

Como pode o calmo ar

transformar-se em ventania

e soprar a sua ira

sem, contudo, ser visível?

 

Como pode ser possível

o fruto vir da semente

e que a terra alimente

o próprio mundo no seu meio?

 

Como pode que do seio

venha o leite que amamenta,

a ternura que sustenta

e que abriga o ser humano?...

 

E como pode o ser humano,

pela Vida que é criado,

conceber-se em pleno ato

e se formar dentro do ventre?

 

Como pode o som-sirene*

convidar-nos ao melhor

de ganharmos, com suor,

no trabalho o nosso pão?

 

Como pode haver no chão

tanto adulto e criança

mendigando à esperança

que lhes dê dignidade?

 

Como pode ser “de idade”

quem ainda não é velho,

se é nesse ministério

a fonte da juventude?...

 

...Essa minha inquietude

é que me leva a questionar

se... não é de admirar

que se possa tudo isso?

 

Busco notas pelos livros

sobre mil filosofias

que se integram tão vazias

no vazio de nada ser,

 

quando a “Sofia” pode ser

renascer para o eterno,

renovar o que está velho,

admirando-se, apenas.

 

Célio

(Iara Mola)

28/9/2003

2003

II CONCURSO LITERÁRIO "A PALAVRA EM PRISMA" – VERSO EM CANTO

SECRETARIA DE CULTURA DE GUARULHOS

Poemas: "Faces" e "A Descoberta da Vida" (classificados entre os dez vencedores)

 

Faces

 

Que a sombra dos objetos que vejo

Não me impeça de ver o Sol.

E que a dor deste momento que passo

Me mostre alguma alegria,

Porque uma face de mim é penumbra,

Mas a outra face é esperança.

 

E que a espera pelo instante que não veio

Não me impeça de ver cada dia.

E que cada sentimento adverso

Contribua pro meu eu indecente,

Porque uma face de mim é presente,

Mas a outra face é inconstância.

 

Que o acorde harmonioso das músicas que tocam

Não ridicularize a minha grotesca canção.

E que o som dissonante da minha voz em gritos

Seja entendido como a extensão dos meus medos,

Porque uma face de mim é assumidamente desafinada,

Mas a outra face é muda...

 

Que a série de pecados que cometi

Não me impeça de ir pro céu quando eu morrer.

E que o ódio não seja condenado, mas assumido

Como uma face do amor, enlouquecido,

Porque uma face de mim é anjo,

Mas a outra face é desconcerto.

 

Que a minha intenção de facear “Metade”

Não seja julgada por pretensão,

E que as várias maneiras de se dizer alguma coisa

Sejam respeitadas, ainda que nem sempre compreendidas,

Porque uma face de mim é o que leio,

E a outra face, o que desejei ter escrito.

                                                                        

Iara Mola

(18/10/2002)


 

A Descoberta da Vida

 

Meu celeiro foi destruído pelo fogo

e agora posso ver a lua. (1)

Diante da vida nua

redescubro a própria vida

e renasço pro amor.

Surpreendo-me na descoberta

de que o mundo acoberta

e propaga tanta dor.

Que a notícia sobre o mal

estampada no jornal

vende mais do que a bondade. (2)

E que eu o consumia,

e que aos poucos eu sofria

sem ter conta da verdade

de que a esperança prevalece

onde o mal a obscurece,

porque ela é maior, enfim.

Meu celeiro destruído

pelo fogo inesperado

foi o tempo avançado

que o amor trouxe para mim.

Já não me escondo em minha casa:

conheci outras pessoas

que ensinam, sendo boas,

o que é um ombro amigo.

Nosso assunto é variado:

nos eleva a outro mundo...!

Compartilho o que, no fundo,

eu já não posso ter comigo.

Quando chega a madrugada

e o silêncio faz morada

aqui pras bandas do sertão,

eu rezo pelo amor na Terra;

pelo fim de toda guerra;

pela paz do coração.

Se o verde agora escuro

será claro no amanhã,

por que não tornar irmãs

todas almas do planeta?

Eu não vejo o meu futuro

tristemente enegrecido.

Meu celeiro empobrecido

tem riqueza incomparável.

Onde plantei solidão

brotou linda emoção

eternamente desfrutável. (3)

Nada é irreversível;

mesmo aquilo que aparenta.

Hoje afirmo em meus setenta

que existo além do corpo.

Na matéria quase morto,

sou um velho bem feliz, e,

agora que encontrei

a razão para esta vida,

digo antes da partida:

o amor é a diretriz.

 

José

(Iara)

21/8/2002

bottom of page